DEFASAGEM, INFLAÇÃO E FALTA DE INSUMOS: OS DESAFIOS DOS HOSPITAIS FILANTRÓPICOS

DEFASAGEM, INFLAÇÃO E FALTA DE INSUMOS: OS DESAFIOS DOS HOSPITAIS FILANTRÓPICOS

Manter atendimentos de qualidade aos pacientes, em meio a um cenário econômico desfavorável sempre foi um dos maiores desafios das instituições filantrópicas brasileiras, mas não o único. Em todo o País, são mais de 1800 entidades que tem convivido, diariamente, com problemas que vão além da defasagem da tabela SUS para custeio das atividades.

O Hospital Hélio Angotti, em Uberaba, que atende pacientes oncológicos de 60 municípios mineiros, por exemplo, convive, historicamente, com um déficit mensal em torno de R$ 1 milhão. E aposta em uma gestão sustentável e no apoio da comunidade, para dar continuidade aos atendimentos. “Para entender esse déficit basta uma conta simples: a cada R$ 1,00 gasto dentro do nosso hospital, hoje, o SUS nos paga apenas R$ 0,40. Precisamos correr atrás do restante e tentar driblar, ao máximo, os outros desafios financeiros que aparecem, como a inflação de medicamentos e insumos, por exemplo”, explica o diretor-executivo, Fernando Fernandes.

Ainda segundo Fernandes, a direção do hospital tem, ao longo dos últimos anos, investido na qualidade dos processos internos, de modo que os departamentos sejam enxutos, porém eficientes. “Os atendimentos crescem a cada dia e com eles, os gastos. Internamente, nosso trabalho tem sido somar esforços, buscar parcerias e contar com doações para equilibrar essa balança que sempre pesa mais para o lado da instituição”, afirma o diretor.

O Hélio Angotti também enfrenta os reflexos de problemas globais, como os efeitos da pandemia, guerra e as movimentações de mercado. O gestor de suprimentos e logística, Daniel Wardi, explica, por exemplo, que neste ano, o reajuste dos medicamentos ficou em 10,89%, acima da inflação de 2021, que foi de 10,06%. “E além dos aumentos autorizados pela CMED – Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, alguns produtos estão em falta, como cloreto de sódio (de 1000ml; 500ml e 250ml); outros com mercado irregular, como é o caso da Dipirona, entre outros”, conta Wardi. Com esse cenário, a cada compra realizada, o preço pode e tem sido praticado com reajustes.

Há ainda os casos em que medicamentos bastante utilizados saem do mercado e os que veem para substituir, chegam com preços muito acima dos praticados anteriormente. O medicamento Neostigmina, por exemplo, que custava R$ 0,99 saiu do mercado e foi substituído pelo Sugamadex, que custa R$155,00. Um produto que tem enfrentado escassez mundial são os contrastes, utilizados em exames de imagem, como tomografias. “Fizemos um contrato no ano passado no valor de R$ 61,66 por frasco, o que tem garantido fornecimento durante estes meses, enquanto outros hospitais estão com falta ou pagando acima de R$180,00 por frasco”, explicou.

Vale ressaltar que a realidade do hospital de Uberaba não é isolada. Tanto que, na semana passada, durante o 30º Congresso Nacional das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, estes e outros desafios enfrentados pelas entidades brasileiras foram debatidos, bem como a relevância dos filantrópicos para o País.

Hélio Angotti convive com déficit mensal em torno de R$ 1 milhão.